Vinho e Cultura, o ‘match’ perfeito
Na Quinta da Lagoalva de Cima, em Alpiarça, as actividades de Enoturismo passam pela visita à adega e prova de vinhos. Mas há muito mais. A mais recente aposta é um Museu de Carruagens, que encanta quem por lá passa.
A Quinta da Lagoalva de Cima estende-se pela margem sul do rio Tejo, a cerca de dois quilómetros da vila de Alpiarça e a onze de Santarém, a capital de distrito. O grupo explora uma área total de 5.500 hectares (4000ha de floresta, 1000ha de agricultura de regadio, 16ha de olival e 42 de vinha), dedicando-se por isso a várias áreas de negócio, entre os quais o vinho e o enoturismo. O novo Museu das Carruagens foi um dos projectos mais recentes e integra-se na oferta de actividades de Enoturismo que a propriedade tem para oferecer. Desde o ano passado, quando abriu, o seu objectivo foi destacar-se como um espaço de eleição no panorama cultural da região e proporcionar um bom momento aos enoturistas juntando o vinho às tradições.
O museu tem expostos vários objectos que fazem parte da colecção privada da família Campilho, proprietária da sociedade agrícola. Ali podem visionar-se várias carruagens / atrelados de cavalos, arreios, artefactos e fotografias, entre outros pertences que servem de pretexto para ficarmos a conhecer a história da propriedade, da família e das tradições locais, além de uma série de inovações decorrentes da progressiva liberalização do transporte e dos avanços tecnológicos da Revolução Industrial. A produção destes veículos, realizada nessa época, aproxima-se do fabrico em série, promovendo a criação de diversas tipologias relacionadas com a sua função na cidade e no campo, variando os nomes destes modelos conforme o país ou o fabricante.
Uma forma diferente de dar a conhecer os modos de vida passados. Segundo Miguel Campilho, Presidente do Conselho de Administração da Lagoalva, este projecto é o culminar de muitos anos de trabalho de conservação do património familiar da sua família. «O espaço estava abandonado e em ruínas e por isso também foi recuperado um activo importante e que pretende receber outro tipo de museologia, assente em peças que estamos a restaurar. Quem sabe podemos receber outras colecções privadas». Uma iniciativa que está só no começo, já que a família pretende ainda desenvolver no futuro novos projectos que ajudem a rentabilizar o património da Lagoalva, como uma espaço para recepções e restauração, e que será um complemento para as actividades que já existem, nomeadamente provas de vinho, refeições na adega, passeios equestres, passeios pela vinha, birdwatching, entre outros.
Recorde-se que a história da Quinta da Lagoalva remonta ao séc. XII, quando, 50 anos após o Tratado de Zamora (1143), o rei de Portugal D. Sancho I assinou a comenda de doação de vários territórios nesta região à Ordem de Santiago de Espada, após os seus heroicos feitos na conquista de Santarém. Entre as várias propriedades estava a Quinta da Lagoalva, que pertenceu a esta ordem durante seis séculos, remontando a 1193, a data do seu primeiro registo.
Em 1834, a Lagoalva foi comprada por Henrique Teixeira de Sampayo, 1.º Conde da Póvoa. Entre 1841 e 1842 todos os bens passaram para D. Maria Luísa Noronha de Sampayo, que, em 1846, casou com D. Domingos António Maria Pedro de Sousa e Holstein, 2.º Duque de Palmela, revertendo, a partir dessa época, os bens para a Casa Palmela, e passando por sucessão para os seus descendentes, até à atualidade.
Pela sua dimensão histórica e cultural, a Quinta da Lagoalva de Cima é hoje a maior e uma das mais emblemáticas propriedades da região, sendo o grupo empresarial detido pela família Holstein Campilho.
A longa tradição da Quinta da Lagoalva como produtora de vinho é atestada em 1888, na Exibição Portuguesa de Indústria, onde esteve presente com 600 cascos de vinho. Data de 1989 o primeiro registo como produtor engarrafador, com a marca Cima, certificada pelo Instituto da Vinha e do Vinho (IVV). Seguiu-se a primeira certificação atribuída pela Comissão Vitivinícola Regional do Tejo (CVR Tejo), em 1992, então como Quinta da Lagoalva.
Os seus 42 hectares de vinha, plantados junto ao rio Tejo, são constituídos por uma variedade de castas nacionais e mundiais, eleitas tendo em vista a aptidão enológica ao terroir. As vinhas mais velhas são de Fernão Pires e têm cerca de 70 anos. Destaque para as vinhas de Syrah, plantadas em 1984, das primeiras em Portugal. As castas mais representativas são, nas brancas, Alvarinho, Arinto, Chardonnay, Fernão Pires, Sauvignon Blanc, Verdelho e Viosinho e, nas tintas, Alfrocheiro, Cabernet Sauvignon, Castelão, Syrah, Tannat, Touriga Nacional e Touriga Franca.
As vinhas da Quinta da Lagoalva beneficiam de um moderno sistema de condução, tal enológicas, baseadas no diálogo entre o modelo do ‘Novo Mundo’ e opções tradicionais europeias. Pode, por isso, afirmar-se que os vinhos da Quinta da Lagoalva são resultado da filosofia do produtor, das características marcantes de castas de vincada personalidade resultante do seu microclima e terroir.
A produção de vinhos ronda as 650 mil garrafas, a representar cerca de 1,5 milhões de euros de faturação em 2022. As vendas em Portugal correspondem a 65% do negócio, sendo os restantes 35% alocados a mercados de exportação, com maior destaque para Alemanha, Bélgica, Brasil, China e Polónia. Os vinhos representam cerca de 15% das vendas totais do Grupo Lagoalva, com tendência para um aumento.
O portefólio de vinhos da Quinta da Lagoalva tem uma espinha dorsal, composta por três marcas: Lagoalva (branco, rosé e tinto; Sauvignon Blanc; Reserva branco e tinto; e Barrel Selection branco e tinto), Quinta da Lagoalva (Grande Reserva Fernão Pires branco, Alfrocheiro tinto e Syrah tinto; Espumante; Colheita Tardia; e vinho Abafado) e Dona Isabel Juliana(Grande Reserva branco e tinto). Um espectro composto, em 2023, por um espumante branco, seis brancos, um rosé, três tintos, um colheita tardia e um licoroso abafado.