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Vinhos com alma

A Wine & Soul foi fundada em 2001 pelo casal de enólogos Sandra Tavares da Silva e Jorge Serôdio Borges, que desde há vários anos têm investido na compra de vinhas velhas e propriedades no vale do Rio Pinhão. Dezoito anos passados, revelam o trabalho realizado desde então.

Não há quem não conheça Sandra Tavares e Jorge Serôdio Borges, um dos casais mais badalados no mundo do vinho. Ambos enólogos, criaram uma empresa que dá a conhecer alguns dos melhores vinhos do Douro. Desde o início do projeto familiar, a ideia passa pela criação de vinhos que expressem todo o carácter das vinhas e castas indígenas da região, procurando o equilíbrio dos seus elementos. Marcas conhecidas produzidas pela Wine & Soul como Guru, Pintas ou Quinta da Manoella são bons exemplos de um Douro moderno onde a natureza e a personalidade de cada vinha falam mais alto.

Ao longo dos últimos dezoito anos, muita coisa se alterou no mundo do vinho, tendências e hábitos de consumo, mas nunca a qualidade dos vinhos produzidos por esta empresa. Para mostrar o trabalho realizado nos últimos anos, Sandra Tavares e Jorge Serôdio organizaram uma prova no restaurante Solar dos Presuntos, em Lisboa, onde se comprovou a seriedade e a paixão que ambos colocam no seu trabalho.

Quando o casal se conheceu em 1999, ela a trabalhar na Quinta Vale D. Maria; e ele a trabalhar como assistente de Dirk Niepoort, certamente não imaginavam que um dia iriam criar juntos vinho que hoje já são emblemáticos. Mas, quando casaram, já tinham vontade de fazer vinhos juntos, e por essa razão fundaram a Wine & Soul em 2001, mesmo tendo em conta o risco que corriam. Começaram por comprar uvas em Vale Mendiz, no Douro, numa zona onde existem muitas vinhas velhas, uma aposta que só deu bons resultados. Na época, aquelas uvas de grande concentração, eram vendidas a grandes casas de vinho do Porto, mas Sandra e Jorge queriam muito provar que dali também se poderiam produzir grandes vinhos de mesa. Compraram então um armazém, onde funcionou a primeira adega, e uns tempos depois começaram também a comprar vinhas velhas, um investimento que mantêm até hoje, sobretudo no vale do Pinhão.

Prova poderosa

A prova dos vinhos Wine & Soul incluiu os brancos Manoella e Guru, ambos de 2018; seguidos dos tintos Manoela, Manoella Vinhas Velhas, Pintas Character e Pintas, todos de 2017. A prova terminou com um Porto Vintage 2007.



Nesta prova, além da qualidade dos vinhos, contaram-se histórias que ajudaram a ilustrar a paixão que Sandra e Jorge sentem pelo Douro e pelos seus vinhos. Como a história da Quinta da Manoella, no Vale do Pinhão, uma propriedade pertencente à família de Jorge há já várias gerações, com vinhas velhas e uma mata espontânea deslumbrante, como faz questão de afirmar Sandra. Esta quinta com 60 hectares, dos quais 20 são de vinha, é por isso muito especial para o casal de enólogos, que acabou por comprá-la à família de Jorge em 2009. A sua localização e clima húmido confere uma frescura única aos vinhos, dando-lhes um perfil de elegância fora do normal na região do Douro. Um dos vinhos a destacar-se na prova foi o Quinta da Manoella Vinhas Velhas, elaborado – como o próprio nome indica - com uvas de uma vinha velha quase abandonada, mas que Sandra e Jorge recuperaram. Com uma expressão de fruta e mineralidade evidentes, é um vinho complexo mas de taninos sedosos, finos e com uma frescura que lhe confere muita elegância.

Outra história especial é a do vinho tinto Pintas, que além de ser o nome do cão que tinham na altura, traduz também a vontade que Sandra e Jorge tinham de fazer um vinho juntos. Assim nasceu o Pintas, o primeiro projecto desta dupla incansável, e hoje um dos vinhos de referência do Douro. Complexo, denso, um tinto de barba rija que mostra bem o poder do Douro, mas sempre com excelente frescura. Tal como o Guru, que embora branco, é elaborado também com vinhas velhas, e tem uma enorme complexidade. Produzido desde 2004, revela o desejo que ambos tiveram de mostrar que o Douro também poderia ser uma região de grandes brancos. Procuraram então vinhas velhas em zonas mais altas e acabaram por encontrar parcelas diversas, tanto em solos de granito, como de xisto, o que acabou por determinar um perfil de vinho muito interessante e diferenciador.

Pelo andar da carruagem, Jorge e Sandra vão continuar a surpreender, ainda mais agora, que Jorge Serôdio deixou de ser consultor na Quinta do Passadouro – à qual dedicou durante anos grande parte do seu tempo - para poder dar ainda maior atenção ao projecto familiar.