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Vinhos emblemáticos

A Fundação Eugénio de Almeida é a nova proprietária do Tapada do Chaves, em Frangoneiro, arredores de Portalegre. A recuperação da marca é uma missão.

Depois de um longo período caída no esquecimento, a Tapada do Chaves, propriedade alentejana e nome de uma marca que fez história em Portugal, foi adquirida em Julho de 2017 pela Fundação Eugénio de Almeida (FEA), que agora a quer relançar. A ideia passa por conquistar novamente a fama que os vinhos alcançaram no passado, através do reconhecimento da sua qualidade e genuinidade.

Após a compra, já se tomaram diversas medidas. A primeira foi recuperar a imagem de sempre, que apesar de tradicional foi devidamente modernizada / estilizada pelo atelier Albuquerque Design. A par da imagem, sistematizar a empresa da vinha à produção de vinho foi um passo essencial, facto que permitiu ao enólogo Pedro Baptista estudar ainda mais a fundo estas vinhas.

Por ser um projecto de nicho, os vinhos não estarão presentes nos supermercados mas apenas no Canal Horeca (restaurantes e garrafeiras), o que tem toda a lógica, já que dos 60 hectares da propriedade, apenas 32 hectares são de vinha (24 de castas tintas e 8 de castas brancas), e não se pretende aumentar a produção com uvas de outras propriedades. No meio destes números, existe ainda uma jóia do tesouro, vinhas velhas, sendo as mais antigas de 1901 (de castas tintas) e 1903 (de castas brancas).  No 1,5 hectare de castas tintas encontramos Trincadeira , Tinta Francesa e Castelão e, nos três hectares e meio de castas brancas, Arinto, Roupeiro, Tamarez, Assario e Fernão Pires. Curiosamente, estas castas de vinhas velhas encontravam-se já separadas, e não à mistura, como era comum na época.

A recuperação destas vinhas velhas através do preenchimento de falhas no terreno com material genético dessas mesmas vinhas é outro dos trabalhos em curso, assim como o reconhecimento das castas em toda a propriedade. Um trabalho a cargo do viticultor João Torres, que bem deve andar feliz da vida com esta missão.

Este trabalho de formiga já está a permitir à marca voltar a assumir-se pela qualidade que sempre teve. Todos os Tapada do Chaves agora lançados (o branco 2017, o tinto 2013 e o tinto Vinhas Velhas 2010) têm como fio condutor uma grande mineralidade, frescura, equilíbrio e grande potencial de envelhecimento.  

A Tapada do Chaves foi adquirida em Julho de 2017 pela Fundação Eugénio de Almeida, que agora relançou a marca

A Tapada do Chaves teve início nos primeiros anos do século XX, quando o senhor Chaves plantou na sua pequena propriedade (tapada), as primeiras vinhas. Em 1920, a propriedade foi adquirida por Joaquim da Cruz Baptista, que começou a explorar a marca comercial Tapada do Chaves a partir de 1961, data do primeiro vinho engarrafado. O principal destino destes vinhos era a restauração lisboeta de referência, o que contribuiu para o seu rápido e significativo reconhecimento.

Gertrudes Fino, filha de Joaquim da Cruz Baptista, foi quem mais contribuiu para a divulgação da marca, sendo a principal responsável pela fama e prestígio dos vinhos, que rapidamente começaram a ser premiados e se tornaram numa referência.

No final da década de noventa, a propriedade pertenceu ainda às Caves Murganheira antes de passar para as mãos da Fundação Eugénio de Almeida, a actual proprietária.