Viva a cortiça
O sector da cortiça está a viver um período de grande expansão e de reconhecimento internacional, mostrando claramente ser a preferência da larga maioria dos produtores de vinho em todo o mundo. E dos consumidores também. João Ferreira, presidente da APCOR - Associação Portuguesa de cortiça – mostra que os números não mentem.
Segundo dados do INE (Instituto Nacional de Estatística) o máximo histórico de exportações em 2017 bateu o record. É sinal que a cortiça está em alta?
Já temos dados mais recentes, e são muito positivos. O ano de 2018 bateu o recorde que tínhamos conseguido em 2017, atingindo, agora, 1.067,6 milhões de euros e uma subida de oito por cento face a 2017. Ultrapassamos a barreira dos mil milhões de euros e este é, de facto, um momento histórico para o sector e para Portugal.
Os estudos apontam que, em média, mais de 90% dos consumidores em todo o mundo prefere a cortiça e associa-a vinho de qualidade e elegância. É claramente, a vitória da cortiça sobre os outros vedantes?
Os números apontam que sim. A APCOR desenvolveu um conjunto de estudos em vários mercados, e os resultados obtidos revelaram-se muito positivos. Citando alguns exemplos, 97% dos consumidores de vinho nos EUA associa a rolha de cortiça a vinhos de qualidade; 83% dos consumidores de vinho franceses prefere a cortiça; 86% dos italianos considera a rolha de cortiça como o melhor vedante para assegurar a qualidade do vinho; 97% dos consumidores chineses acredita que os vinhos que usam cortiça são de melhor qualidade e 95% dos espanhóis prefere a rolha de cortiça para as garrafas de vinho e de cava.
A APCOR estima que 12 mil milhões de garrafas no mundo têm rolha de cortiça, 4 mil milhões de garrafas têm vedante de rosca, e 2 mil milhões vedante de plástico. Como fizeram esta estimativa?
Na verdade, não existe uma fonte oficial para o número de garrafas produzidas anualmente. Mas é uma estimativa construída com base na produção mundial de vinho e para aquele que é engarrafado. Tendo por base a quantidade de rolhas que vendemos e os dados que os nossos concorrentes também vão divulgando, conseguimos chegar a esses números.
A Amorim tem sido uma das empresas que mais tem investido na investigação do combate ao TCA e promete resolução total em 2020. Tem havido mais empresas envolvidas e interessadas em combater este mal?
Todo o sector soube reinventar-se e investir em áreas fulcrais para o seu desenvolvimento, como a qualidade, a investigação, a inovação e a requalificação dos seus recursos humanos. Foram mais de 700 milhões de euros de investimento em cerca de 15 anos, em novas fábricas, novos processos, novas competências. Temos consciência que foram dados passos muito grandes, mas que também não podemos estagnar e, por isso, o investimento nestas áreas será sempre uma aposta do sector. Há um foco geral das empresas do sector em irradicar o TCA e em projectos individuais ou colectivos todos lutam por este caminho.
Desde 2009 tem havido uma reacção por parte do sector da cortiça para ganhar novamente quota de mercado, algo que foi alcançado. Que medidas foram tomadas mais evidentes para se ter vendido esta batalha?
Acima de todas as outras razões, está a visão e esforço das nossas empresas, empresários e trabalhadores. Nunca duvidaram de qual era o caminho certo. E este momento é mérito do esforço colocado por todos ao longo das últimas décadas. Associado a este esforço está, sem dúvida, todo o investimento realizado, que nos permitiu responder às exigências do mercado e ter um produto cada vez mais competitivo. Não podemos esquecer, também, que todo este esforço esteve acompanhado sempre de perto por uma estratégia de promoção internacional realizada pela APCOR e que desde há 10 anos passou a olhar com particular destaque também para os consumidores e que alterou de forma irreversível a nossa forma de comunicar.
Já temos números que jogam muito a nosso favor. Futuramente, aonde queremos chegar?
Queremos continuar a afirmar a rolha de cortiça como líder mundial no mundo vinícola. E num mundo onde os produtos naturais são, cada vez mais, valorizados. Não temos dúvida que a cortiça será uma aposta de futuro. Para além do vinho, queremos continuar a apostar na utilização da cortiça em aplicações que acrescentem valor, em áreas tecnológicas e, também, no design. Vivemos um momento de viragem no paradigma económico mundial, onde a aposta vai passar por alterar o modelo linear pelo circular, num modelo de crescimento assente na sustentabilidade e é um orgulho ter em Portugal um sector líder mundial que assenta como um paradigma de todos estes desafios.